domingo, 10 de outubro de 2010

O preço do grito

A cada dia que passava eu ganhava um pedaço do meu querido Tarcísio. Aos poucos ele percebeu que podia confiar em mim. Que algo diferente do que ele estava acostumado estava acontecendo. E eu, eu queria protegê-lo, mostra a ele que o mundo é muito mais do que um mundinho triste. Que não é porque um relacionamento deu errado que todos vão dar errado.
Os dias passaram e agora todos os meus finais de semana eu passava com a família do Tarcísio. Era um mundo diferente. De segunda a sexta eu vivia um mundo hetero na faculdade onde tudo era estudar e estudar. Na sexta eu saia do meu "show de Truman" e entrava no meu mundo real. Seria meu mundo real? Eu já não sabia o que era verdade ou fantasia. Seria minha semana hetero ou seria meu lindo final de semana com meu namorado? Ate hoje eu não sei... Bem, mas o que acontecia é que sexta feria era sinal de alegria, de liberdade. Numa sexta-feira de Outubro fui a casa de Tarcísio para passar o fim de semana. Seria um fim de semana normal onde a família dele, eu e uma amiga do casal estaríamos conversando e se divertindo. O sábado foi muito legal. Era muito bom conversarmos, trocarmos carinho, cozinhar juntos. Tudo muito lindo.
- Tarcísio eu vou lavar os pratos.
- Certo. Eu to aqui fora com a Paula conversando. Tudo normal. Tudo lindo. Ate que Tarcísio acredita que pode preparar um simples doce de goiaba com queijo.
- Ariel, toma eu fiz pra você.
- Quero não...
- Mas eu já fiz pra você. Agora você vai ter que comer...
- Mas você tinha que procura pra mim primeiro se que eu queria antes de você fazer. Bastou simplesmente isso para começar a confusão. Acredito que o Tarcísio achou que poderia me tratar como ele tratava seu ex. E logo após a minha fala ele começou...
- Seu grosso... seu &%$$Q#W¨$@!))). Melhor não traduzir.
Naquele momento eu estava conhecendo a verdadeira natureza do Tarcísio. Meu coração gelou. Simplesmente minhas mãos ficaram frias. Não entendi. Porque isso? Será que o que eu falei foi tão sério para ser tratado assim? No mesmo momento ergui minha voz em tom simples e falei:
- Por que você esta gritando pra mim? Por acaso eu sou um cachorro pra você me tratar assim? Se você quer falar assim com alguém vai falar com seus cachorros porque eu não mereço isso não. 
O Tarcísio gelou. Ele e nossa amiga Paula ficaram assustados e foram em direção à sala de TV. Calmamente, com forte dor no peito, se eu pudesse tinha matado ele, terminei de lavar os pratos, limpei a pia, fui ao quarto e arrumei minhas coisas. E sutilmente olhei para a porta da cozinha e caminhei. Passei pela garagem e pelo portão e fui embora. Pelo menos na minha casa eu escuto o que eu quero... passos, raiva, mais passos e mais raiva...
- Onde está Ariel. Perguntou a mãe de Tárcísio percebendo que algo estranho estava acontecendo. 
- Esta no quarto mamãe. Deve esta descansando.
- Não está não. Eu vi ele pegar as coisas dele e ir embora. O que foi que aconteceu? Tarcísio desespera-se e vai ao quarto com a esperança de me encontrar. Ao abrir a porta percebeu que não foi apenas eu que sumi. Tudo que era meu já não existia em seu quarto.
- Mamãe o Ariel foi embora.
- Eu falei pra você... você
- Me empresta o carro pra eu ir buscar ele...
- Eu mesmo não. Você apronta e agora quer que eu resolva. Se vira...

Tarcíso desesperado sai pelo portão e tenta ver, tenta me encontrar. Eu estava longe nesse momento. Então ele corre ao meu encontro. No meio do caminho eu olho para atrás e vejo alguém em desespero correndo em minha direção. 
- Ariel, Ariel me espera. Vamos conversar.
- Não.
- Ariel, pelo amor de Deus para de andar. Senta aqui. Vamos conversar. A conversa é a base do relacionamento. 
- Conversa com seus cachorros eles devem te entender melhor do que eu. (coitados nem os cachorros merecia isso).
- Ariel por favor, por favor..
Nesse momento chego a um ponto de moto táxi.
- Uma moto por favor...
- Para aonde senhor?
- Para o bairro aqui vizinho. Subi na moto e fui embora. Não olhei para trás. Não sei o que Tarcísio fez a partir dai. O que eu sei é que ele não foi para casa. Algum tempo depois, já em casa, recebo uma mensagem de Paula, que sem entender o que tinha acontecido, enviou uma mensagem para meu celular perguntando por Tarcísio. Pensei. 
- Não sei e nem quero saber. Então dormi...

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